terça-feira, 20 de junho de 2017

Dúvidas, muitas dúvidas sobre Pedrógão (e o que vem de trás)

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Enquanto Dormia
 
David Dinis, Director
 

PVoltando à pergunta de ontem, já com as primeiras respostas:

Porquê?

Por que é que estivemos tanto tempo parados? Conta-nos a Maria Lopes hoje que o Plano contra incêndios não é avaliado há quatro anos - e que o último andou perdido até ela fazer perguntas ao Governo. Acrescenta ela que hoje será publicado o último desses relatórios, relativo ao ano de... 2012 (e que todos os outros terão sido pedidos por estes dias). Mas há mais: as novas leis para proteger a floresta (e afastar o eucalipto) estão presas na Assembleia desde Abril - e já não vão ser aprovadas antes de os deputados irem de férias (essa história também está aqui).

Por que é que isto aconteceu em Pedrógão? O Governo reconheceu ontem à noite que pediu uma investigação sobre algumas falhas prováveis no terreno, no último sábado: a falha no sistema de comunicações, que ainda nem está a funcionar; e a falha no fecho de estradas, que chegou tarde demais. 
Mas há outras questões que precisam de respostas claras. Dois exemplos: será verdade, como dizia o Expresso de ontem, que Marcelo foi para o centro de operações e o encontrou num caos? Como é que se explica que o IPMA não tivesse registo de trovoadas no sábado? Politicamente, disse ontem o líder do PSD, chegará o momento em que as perguntas também vão ser feitas. A nós, jornalistas, cabe a tarefa de as fazer desde já.

64 vezes porquê. Tantas vezes quanto o número das vítimas que Pedrógão fez. Mais do que essas, porque há histórias de sobreviventes que serão sempre vítimas, como Mário - o homem que mandou a mulher e as filhas fugir do fogo e as viu morrer (“Por que é que eu me fui salvar?”, conta ele à Natália Faria, no início de uma reportagem que nos deixa a chorar por dentro). E porque há nomes e histórias por trás dos números das vítimas de Pedrógão Grande, que começamos agora a conhecer. 
É por isso que, no Editorial de hoje, deixamos sete perguntas que vamos repetir até termos as devidas respostas. Porque não é por memória às vítimas que o jornalismo deve fazer silêncio - é por honrar a sua memória que não se pode calar.
Sobre esta tragédia que vai demorar a sair das nossas vidas, vale a pena ler também a Opinião que aqui temos: o "Basta!" de Bagão Félix, as "Notas dos e nos dias da devastação" de Paulo Rangel; o "Começar do zero" do Miguel Esteves Cardoso; o pedido de João Camargo para "Tirar a floresta das mãos do eucalipto"; e o do João Miguel Tavares: "Deixem-se de lágrimas de crocodilo". E também a nota do António Guerreiro sobre "As vítimas dos incêndios e da televisão".
A informação continua a ser actualizada, minuto a minuto, neste texto - acreditando a Protecção Civil que o incêndio será dominado em 24 horas. O registo das últimas 36 horas ficará aqui, para memória futura.

Outras notícias, outros textos

Sobre o militar português que morreu no Mali, estas são as últimas informações sobre o caso. E aqui tem uma explicação sobre o que se passa naquele país.
Sobre os exames, é importante saber que os sindicatos mantiveram a greve de amanhã, depois de uma reunião com o ministro. E que os professores de português classificaram como "equilibrado" o exame de ontem - cuja correcção está aqui publicada. O PÚBLICO desafiou dois alunos a contar como lhes correram as provas - e a Leonor e o Tiago foram gentis e aceitaram com um sorriso (e algum nervosismo).
Da política, sobra uma notícia de um impasse: a nova administração do Banco de Portugal está em risco de só entrar em funções depois do Verão.
Sobre o caso Hermínio Loureiro, soubemos que o ex-autarca é suspeito de corrupção em negócios de... campos sintéticos de futebol. A Margarida e o Pedro Sales Dias explicam.
Falando de futebol, anote o que disse o presidente do Real Madrid sobre o caso Ronaldo. E passe os olhos pela revolução que a FIFA quer implementar no jogo de todas as paixões.
E no plano internacional, onde as notícias não são boas: a polícia brasileira diz ter provas de corrupção contra Temera Rússia ameaça os EUA para defender Assada morte do estudante norte-americano libertado pela Coreia do Norte; o ataque islamofóbico em Londres, que faz temer um ciclo de violência entre extremistas; o ataque a polícias a Paris, por um suspeito de radicalização. E ainda esta notícia, muito perturbadora: uma em cada 113 pessoas do mundo está deslocada, refugiada ou é candidata a asilo. Em todo este cenário, vale-nos uma informação ligeiramente tranquilizadora: as negociações do "Brexit" terão começado de forma "muito construtiva".

A agenda de hoje
  • O Parlamento decide em que modelo vai prestar homenagem às vítimas de Pedrógão;
  • É dia de duelo ibérico, no Europeu de Sub-21: o Portugal-Espanha é às 19h45;
  • O vice-presidente Jyrki Katainen está em Lisboa, para participar na conferência anual do Negócios;
  • É o dia Mundial dos Refugiados.

Só mais um minuto...

Porque é preciso sublinhar o orgulho que temos neles: nos médicos, enfermeiros e dentistas que se oferecem para ajudar as vítimas, no veterinário que tenta fazer o máximo com o mínimo. Também no Osvaldo, que tem duas casas vazias e oferece abrigo a quem “ficou sem nada”. Porque nos arrepiamos quando sabemos que uma onda de solidariedade “estonteante” está a chegar a Pedrógão Grande. E porque nos orgulhamos destas histórias de sobrevivência e entreajuda, contadas pela Liliana e pelo Frederico lá no terreno.
Hoje despeço-me com esta nota de esperança em nós, nos nossos - que não falham quando mais é preciso.
Despeço-me, também, explicando-lhe que amanhã e quarta-feira não conseguirei estar na sua companhia - terei de dar um pulo a Itália, à procura de dados para melhorar o nosso trabalho.
Voltarei, portanto, na sexta-feira. Mas com o PÚBLICO, sempre por aqui a actualizar-lhe as notícias. 

Que os dias sejam melhores, que os sorrisos voltem aos nossos lábios. Até já.

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